Recife que cresceu e conservou o
título de "Veneza Brasileira" devido à malha de riachos, que são como
galhos de uma árvore cujo tronco é o rio Capibaribe, teve que conviver com a
força das águas ao longo de sua história.
Este mês, o maior desastre
natural ocorrido no Recife completa 40 anos. Em 1975, Recife teve 80% do seu
território coberto por água devido a enchente no Rio Capibaribe. Nesse cenário
devastador, que marcou a vida de muitos recifenses, 350 mil pessoas ficaram
desabrigadas e houve ainda um registro de 107 mortes.
Ilha do Retiro |
O prejuízo estimado na
época ficou em torno de 1,5 bilhão de cruzeiros. Ao todo foram 31 bairros,
entre eles os mais atingidos foram Caxangá, Iputinga, Cordeiro, Casa Forte,
Afogados e Madalena. Outros 25 municípios da bacia do Capibaribe também foram atingidos.
Histórico de enchentes de
Pernambuco
Av. Agamenon Magalhães |
O período das grandes enchentes
em Pernambuco tem sido historicamente de junho a agosto. Entre os meses de
janeiro e fevereiro só há registros, em toda a História, de duas pequenas
inundações, assim mesmo restritas a algumas áreas do Recife. Uma breve linha do
tempo das enchentes ocorridas no estado de Pernambuco, obtida dos arquivos de
jornais da cidade, é apresentada a seguir.
Veja mais em: 5 imagens incríveis da cheia de 1975
1632 - A 28 de janeiro, ocorre a primeira enchente de que se tem
notícia no Recife, "causando perdas de muitas casas e vivandeiros
estabelecidos às margens do Rio Capibaribe".
1638 - Maurício de Nassau manda construir a primeira barragem no
leito do Rio Capibaribe para proteger o Recife das enchentes: foi o Dique de
Afogados, que tinha mais de 2 km e hoje é uma rua do Recife, a Imperial.
1824 - Entre fevereiro e abril, nova enchente atinge o Recife.
1842 - Junho. Enchente atinge o Recife, derrubando várias casas.
Pontes desabaram; trens saíram dos trilhos; milhares de pessoas ficaram
desabrigadas. Foi a primeira enchente de grandes proporções do Rio Capibaribe.
1854 – Ocorre a maior enchente do século XIX. Durou 72 horas, atingindo
todos os bairros do Recife. Derrubou a muralha que guarnecia a Rua da Aurora;
parte do cais da Casa de Detenção veio abaixo; a cidade ficou sem comunicações
com o interior; no porto do Recife, os navios foram atirados uns contra os
outros.
1862 - Nova enchente castiga o Recife.
1869 - Grande enchente destrói as pontes da Torre, Remédios e
Barbalho, e rompe os aterros da via férrea do Recife. Foi a maior enchente até
então, tendo o imperador Pedro II determinado que o engenheiro Rafael Arcanjo
Galvão viesse a Pernambuco "estudar o problema".
1870 - A 16 de Julho, o bacharel em matemática e ciências físicas
José Tibúrcio Pereira de Magalhães, diretor de Obras e Fiscalização do Serviço
Público do Estado, sugere ao governo imperial a construção de uma série de
barragens nos principais afluentes do rio Capibaribe, para evitar cheias no
Recife.
1884 - Outra enchente atinge o Recife.
1894 - Em junho, enchente atinge todos os subúrbios recifenses
situados às margens do rio Capibaribe.
1899 - 01 de Julho. Vários bairros do Recife foram inundados por
cheia do rio Capibaribe. No município de Vitória de Santo Antão, desaba o
segundo encontro da ponte sobre o rio Itapicuru.
1914 - Outra enchente desaba sobre o Recife, deixando vários
mortos.
1920 - A 14 de Abril, grande enchente deixa Recife isolada do resto
do Estado, durante três dias. Postes foram derrubados; linhas telegráficas
interrompidas; trens paralisados; pontes vieram abaixo, entre elas a da Torre.
Os bairros de Caxangá, Cordeiro, Várzea e Iputinga ficaram totalmente isolados
do resto da cidade.
1924 - Nova enchente deixa os bairros da Ilha do Leite, Santo
Amaro, Afogados, Dois Irmãos, Apipucos, Torre, Zumbi e Cordeiro complemente
submersos. O prédio do Serviço de Saúde e Assistência desabou e as obras do
Quartel do Derby sofreram grandes prejuízos.
1960 - Nova enchente do rio Capibaribe castiga o Recife.
1961 - Enchente deixa 2 mil pessoas desabrigadas no Recife.
1965 - Outra enchente castiga o Recife. Os bairros de Caxangá,
Iputinga, Zumbi e Bongi ficaram complemente inundados. Nas áreas mais próximas
ao Rio Capibaribe, a água cobriu o telhado das casas.
1966 - Enchente catastrófica provocada pelo rio Capibaribe, com a
água atingindo mais de 2 metros de altura, nas áreas mais baixas do Recife. Em
poucas horas, toda a extensão da Av. Caxangá foi transformada num grande rio.
Na capital e interior, mais de 10 mil casas (a maioria mocambos) foram
destruídas e outras 30 mil sofreram danos, como paredes derrubadas. Morreram
175 pessoas e mais de 10 mil ficaram desabrigadas. O nível do rio Capibaribe
subiu 9,20 metros além do nível. O presidente da República, Marechal Humberto
de Alencar Castelo Branco, veio ao Recife verificar os danos causados.
1967 - A Sudene apresenta relatório de uma comissão de técnicos,
constituída logo após a enchente, buscando encontrar soluções para o problema.
O relatório sugere a construção de barragens nos seus principais afluentes e no
próprio rio Capibaribe, que é a mesma sugestão apresentada quase um século
antes pelo engenheiro José Tibúrcio.
1970 - Ano atípico, quando duas enchentes ocorreram, a primeira nos
dias 21 e 22 de julho, havendo coincidência entre picos de descarga do rio e
maré alta. Vinte dias após esse evento, no dia 10 de agosto, a cidade ficou
totalmente inundada por chuvas locais. A tormenta, que se concentrou no Recife
e em Olinda, atingiu em 16 horas uma precipitação de cerca de 336 mm, com
intensidade que alcançou até 65mm/hora.
Em Julho, as águas atingem a zona
da Mata Sul e o Agreste do Estado, por conta do transbordamento dos rios Una,
Ipojuca, Formoso, Tapacurá, Pirapama,Gurjaú, Amaraji e outros. A cidade que
mais sofreu foi o Cabo, que teve 04 dosseus 05 hospitais inundados e várias
indústrias pararam suas atividades. No Recife, as águas da Capibaribe causaram
grande destruição. Na capital e interior, 500 mil pessoas foram atingidas e 150
morreram; 1.266 casas foram destruídas em 28 cidades. Só no Recife, 50 mil
pessoas ficaram desabrigadas.Em Agosto, a nova cheia que atingiu o Recife e
Olinda, foi provocada pelo rio Beberibe. Em Olinda, 5 mil pessoas ficaram
desabrigadas e foi decretado estado de calamidade pública.
1971 – Iniciadas as obras da barragem de Tapacurá, no rio de mesmo
nome,sendo a primeira providência tomada com relação ao controle das cheias.
1973 – Concluída as obras da construção da barragem de Tapacurá, em
25/07/1973. Material de propaganda da Secretaria de Obras do Governo do Estado
anuncia, em letras garrafais, que a Barragem de Tapacurá, inaugurada naquele
ano, era solução definitiva para dois graves problemas que afetavam o Recife:
abastecimento de água da população e "o fim" das enchentes no Recife.
1974 - Outra enchente atinge o Recife. A Comissão de Defesa Civil,
que tinha previsão do avanço das águas, retirou a tempo a população das área
ribeirinhas. Em São Lourenço da Mata, uma ponte ficou parcialmente destruída e
a população isolada. No município de Macaparana, 20 pessoas morreram, por conta
do transbordamento do riacho Tiúma.
1975 - Considerada a maior calamidade do século, esta enchente
ocorreu entre os dias 17 e 18 de Julho. O Recife foi mais uma vez vítima de
inundações, que alcançou níveis nunca antes verificados, atingindo mais de 50%
de toda a área urbana da cidade. Outros 25 municípios da bacia do Capibaribe
também foram atingidos. Morreram 107 pessoas e outras 350 mil ficaram
desabrigadas.
Na capital e interior, 1.000 km
de ferrovias ficaram sem condições de tráfego, pontes desabaram, casas foram
arrastadas pelas águas. Só no Recife, 31 bairros, 370 ruas e praças ficaram
submersos; 40% dos postos de gasolina da cidade foram inundados; o sistema de
energia elétrica foi cortado em 70% da área do município; quase todos os
hospitais recifenses ficaram inundados, tendo o depósito de alimentos do
Hospital Pedro II sido saqueado. Por terra, o Recife ficou isolada do resto do
país durante dois dias.
Região inundada mais escura, registro da SUDENE, 1975. |
Na manhã do dia 21, quando as
águas baixaram e a população começava retomar a vida, o pânico tomou conta das
ruas do Recife, em decorrência de um boato de que a Barragem de Tapacurá havia
estourado e que a cidade seria arrasada. A Polícia Federal investigou a origem,
nunca descoberta, do boato. O pânico durou cerca de duas horas, mas seu momento
de maior intensidade teve cerca de 30 minutos. Mais de 100 pessoas foram
atendidas nos serviços de emergência dos hospitais.
Como conseqüência desses eventos
catastróficos novas medidas de controle foram implementadas: a construção da
barragem de Carpina, destinada ao controle de enchentes, retificação da calha
na área urbana (alargamento e ampliação do vão das pontes do Derby e Torre) e
ainda a construção de barragem de contenção sobre o rio Goitá. Antes da
conclusão dessas obras problemas de menor porte continuaram a ocorrer.
1977 - A 01 de Maio, nova enchente do Rio Capibaribe deixa 16
bairros do Recife embaixo d'água. Olinda e outras 15 cidades do interior do
Estado também foram atingidas. Mais de 15 mil pessoas ficaram desabrigadas e só
não foram registradas mortes porque a população das áreas ribeirinhas foram
retiradas 24 horas antes. São Lourenço da Mata foi o município mais atingido.
Em Limoeiro, houve desabamento de ponte.
1978 - A 29 de Maio é inaugurada a Barragem de Carpina, construída
para conter as enchentes do rio Capibaribe. Com 950 metros de comprimento, 42
metros de altura, a barragem tem capacidade para armazenar 295 milhões de m3 de
água.
2000 - Entre os dias 30 de julho e 01 de agosto, fortes chuvas
castigaram o Estado, inclusive a Região Metropolitana do Recife, deixando um
total de 22 mortos, 100 feridos e mais de 60 mil pessoas desabrigadas. Cidades
foram parcialmente destruídas, tendo ás águas que transbordaram dos rios levado
pontes e casas. As chuvas foram anunciadas com 40 dias de antecedência pelos
serviços de meteorologia, mas as autoridades governamentais deram pouca
importância à previsão. As chuvas atingiram 300 milímetros em apenas três dias
e só na RMR aconteceram 102 deslizamentos de barreiras.
2004 - Fortes chuvas entre 08 de janeiro 02 de fevereiro de 2004
castigam todas as regiões do Estado, deixando 36 mortos e cerca de 20 mil
pessoas desabrigadas. As chuvas (jamais registradas entre os dois primeiros
meses do ano) foram provocadas por fenômenos meteorológicos atípicos (frente
fria e outros) e destruíram pontes e estradas, açudes romperam, casas desabaram,
populações inteiras ficaram ilhadas. Barragens que estavam secas há anos chegaram
a verter. O conjunto de barragens construído no Capibaribe para controle de
cheias, as barragens de Jucazinho, Carpina, Goitá e Tapacurá, conteve possíveis
ondas de cheia vindas do interior do estado. Jucazinho chegou a verter pela
primeira vez. Na cidade de Recife a calha principal do Capibaribe suportou bem
as chuvas, mas a rede de canais interligados que a ele afluem apresentaram
problemas de alagamento dos mais variados. Na cidade de Olinda, cortada pelo
rio Beberibe e seus afluentes, o bairro de Jardim Brasil foi um dos mais
castigados. Todas as barragens do Sertão e Agreste apresentaram vertimento,
inclusive Jucazinho, em Surubim. De acordo com levantamento do governo
estadual, os prejuízos em todo o Estado chegaram a R$ 54 milhões.
2005 – Entre os dias 30 de maio e 02 de junho, fortes chuvas
provocaram enchentes em 25 idades do
Agreste, Zona da Mata e Litoral pernambucanos, deixando 36 mortos e mais de 30
mil pessoas desabrigadas. Cerca de sete mil casas foram parcial ou totalmente
destruídas; 40 pontes foram danificadas; 11 rodovias estaduais foram atingidas,
sendo que sete delas ficaram interditadas; a água inundou ruas centrais,
hospitais, escolas e casas comerciais de várias cidades, provocando enormes
prejuízos materiais.O que se observa na planície do Recife e Olinda é a
freqüente ocorrência de inundações, o que leva a fácil conclusão sobre o
ineficiente sistema de macro e microdrenagem, o qual está longe de atender as
necessidades da sociedade.
Após a retificação da calha do
Capibaribe observa-se que durante a incidência de chuvas intensas não tem
ocorrido extravasamentos, mas a ineficiência da rede de drenagem, por se
encontrar obstruída devido ao lançamento de resíduos sólidos e líquidos, além
do assoreamento, provocam alagamentos constantes.