quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Polêmica na construção de canal em Enseada

Uma polêmica de R$ 4 milhões e 600 metros de extensão tem agitado a Praia de Enseada dos Corais, no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife. A galeria de drenagem de água pluvial que a prefeitura está construindo e que termina no principal point de surfe do município - o Pico Quebra-Prancha, ou PQP -, está sendo contestada por moradores e surfistas da área. Eles alegam que a obra, batizada de Canal do Boto, levará esgoto ao que eles consideram um dos poucos ecossistemas ainda equilibrados do litoral metropolitano.




Iniciada em dezembro de 2013, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, a obra foi embargada pelo Governo do Estado em fevereiro deste ano e retomada há duas semanas. A Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) solicitou à Prefeitura do Cabo esclarecimentos sobre estudos de impacto ambiental e possíveis danos ao meio ambiente. "Essa intervenção começou sem qualquer discussão com a comunidade e sem as licenças necessárias. É no mínimo estranho que a prefeitura proceda desta forma", afirma a professora Geovana Eulália, gestora ambiental e moradora de Enseada dos Corais.

Segundo ela, o local onde desemboca a galeria é trecho de desova de tartarugas-marinhas. "Sem contar que não há tradição de ataques de tubarão a surfistas, o que comprova o equilíbrio ecológico que ainda existe por aqui", argumenta. O Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) já registrou duas mortes relativas aos animais em Enseada dos Corais: em junho de 2013, o corpo José Rogério Tavares da Silva, 41, foi encontrado na Praia do Paiva três dias após ele ter desaparecido no Pico Quebra-Prancha; e, em agosto de 2012, Tiago José de Oliveira Silva, 18, foi achado morto no local. Ambos tinham sinais de mordidas de tubarão.



Geovana alega que a obra da galeria não tem tapumes e que representa perigo para moradores e turistas. "Não há sinalização nem proteção. Qualquer criança pode subir nas montanhas de brita do canteiro e, num acidente, cair bem em cima das ferragens do canal".

Para o engenheiro Frederico Ribeiro, morador de Enseada, o canal também vai afugentar turistas e frequentadores da praia. "Além de tudo, é uma obra agressiva, que destruiu uma rua natural", critica. Frederico alega que o riacho que corta Enseada poderia facilmente ser usado para o escoamento das águas pluviais sem a necessidade de uma intervenção drástica. "O pior é que sem a higienização natural do sol esse lugar vai virar um criadouro natural de ratos e baratas", completa.

PREFEITURA
O secretário de Infraestrutura da Prefeitura do Cabo, Oswaldo Vieira de Mello, garante que não existe a possibilidade de danos ao meio ambiente com a construção da galeria. "É um túnel de concreto armado feito para escoar a água da chuva que inunda boa parte das casas que fica atrás da pista principal entre as Praias do Paiva e de Gaibu. Só vai levar esgoto ao mar se os próprios moradores furarem o concreto e depositarem lá os dejetos, o que é muito difícil de acontecer".

O secretário explica que o embargo da obra, em fevereiro deste ano, obedeceu a um processo rotineiro da CPRH. "Prestamos todos os esclarecimentos, tivemos várias reuniões com a Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público e todos acharam por bem retomarmos os serviços", revela. Um dos motivos para a liberação das obras, de acordo com Oswaldo, é a redução de custos obtida com o projeto desenvolvido pela prefeitura. "O Tribunal de Contas do Estado (TCE) determinou que, da forma como idealizamos a galeria, haveria uma economia de 33% no valor total da obra", finaliza o secretário.
Este local é ponto de desova de tartarugas- marinhas. O canal vai trazer esgoto a um dos lugares mais conservados do litoral do Estado", argumenta o psicólogo Renê Costa.

Fonte: Jornal do Commercio, Cidades.

"A redução do comprimento do curso do rio e a uniformização da seção de vazão (canalização) aumentam a velocidade da corrente e consequentemente a erosão e o assoreamento à jusante, exigindo obras de vulto para manter o leito do rio retificado. Em épocas de enchentes extremas, são frequentes os prejuízos materiais e, às vezes, humanos. A ruptura da interação natural entre rio e baixada ocasiona o empobrecimento dos ecossistemas com perda da diversidade biótica." Fonte: Rios e Córregos, SEMADS


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